Considero que há essencialmente duas espécies de candidatos à habilitação com a carta de patrão de alto mar: os que a procuram porque acham a navegação astronómica com recurso ao sextante uma coisa curiosa e interessante , não tendo qualquer necessidade da carta para efeitos práticos e os que, por outro lado, necessitam efectivamente da carta e de conhecimentos e habilitações pertinentes para, na prática, poderem ir para além da navegação costeira (não obstante vários destes também acharem muito interessante a coisa do sextante…).
Um amigo meu, patrão de alto mar, levou um veleiro de Lisboa a Cabo Verde o ano passado. Não levou sextante a bordo. E possui um bom sextante. E sabe utilizá-lo. E, talvez por isso tudo, sabe que o sextante é essencialmente inútil a bordo de uma pequena embarcação, hoje em dia. Em contrapartida levou vários GPS. Este meu amigo prepara-se para realizar uma volta ao mundo, com início em 2011… e, à partida, não está a pensar levar um sextante a bordo. Também não me consta que o Francisco Lobato, nas suas travessias oceânicas que o qualificam como o mais prestigiado marinheiro oceânico português da actualidade, tenha utilizado o sextante…
Repare-se no paradoxo que é o facto de a legislação portuguesa não exigir que exista um sextante a bordo de uma embarcação de recreio portuguesa em navegação oceânica…quando, por outro lado, exige que o patrão de alto mar seja um perito na navegação astronómica com recurso ao sextante!!!
Resumindo, o que pretendo dizer é que o actual conteúdo programático do curso e do exame de patrão de alto mar, tal como ainda se encontra legislado, se constitui fundamentalmente como um mero obstáculo para o acesso dos portugueses ao Oceano.
Se Portugal fosse efectivamente um país de marinheiros no séc. XXI, seguramente que a navegação astronómica com sextante não faria parte do programa da carta de patrão de alto mar tal como ainda faz.
5 de maio de 2009
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Eu também gostei de aprender a mexer no Sextante. E confesso que durante uns meses, a bordo, andei a tirar alturas e a tentar marcar uma posição. Gostei de constatar que conseguia determinar a minha posição com erros inferiores a 10 milhas com um sextante barato.
ResponderEliminarMas estou totalmente de acordo na desgraça que é o Curriculum do curso. Matérias importantes hoje em dia pouco se falou: Segurança, a tecnologia e procedimentos de salvamento, os novos meios para evitar colisões, meteorologia e saber gerir a navegação de acordo, planear uma travessia, equipar o barco, alimentação, gerir a tripulação, o sono, a vigilancia, enfim... tudo aquilo que é fundamental e que vamos aprendendo na vida com os nossos erros e com alguns amigos... No curso é que não se fala nada disto! e é pena!
Na verdade, na maior parte dos cursos nem se chega a saír de barco. Como se pode ser Patrão de Alto Mar sem nunca se ter passado uma noite no mar, para lá do horinzonte ou a gerir a passagem num separador de trafego maritimo?
Um grande abraço
João Costa Pereira